quinta-feira, junho 29, 2006

Temos as mãos desnudadas. O corpo lavado de sorrisos. De sentires. Quisémo-nos construir com gotas de saliva. Com o corpo assinado por várias pessoas. Quisémos o nosso sexo cheio de desejo. Quisemos chegar ao mais alto possível. Pensamos que assim conseguiríamos. Fodemos corações. Fodemos almas. Fodemos sorrisos. Fodemos esperanças. Fodemos palavras. Fodemos certezas. Fantasíamo-nos de verdade. De conquista. De amor. De paixão. De ternura. De compreensão. Despimo-nos como se assim pudéssemos sentir o que na verdade sempre quisermos. Errámos nos caminhos. Errámos nas pessoas. Errámos na fantasia. E continuamos a errar. Deixamos de procurar um equilíbrio. Decidimos que a saída seria sobreviver. Sobreviver. Mesmo que essa sobrevivência fosse escape. Fosse desabafo. Fosse procura. Fosse falhanço.

E quando me pegas nas mãos que vês tu? Um espelho com duas faces? Uma escultura inacabada? Um intermédio de qualquer coisa? Talvez vejas mais do que isso. Mas as respostas não estão em mim. Estão guardadas numa gaveta sem chave. Num olhar cego de movimentos.

As horas passam. As insónias amontoam-se. Os pés ferem-se nos passos que não damos. Os livros queimam a ponta dos dedos. A alma rasga-se em várias partículas podres. As portas batem-se com força. A memória perde-se em acontecimentos passados. A espontaneidade deixou-se adormecer. A emoção transformou-se em calculismo.
E quando as horas se terminam que vês tu?

4 comentários:

GNM disse...

Vejo-te a ti.
E que bem que te vejo...
As tuas palavras são duras,
fortes, brilhantes, como estrelas...

sotavento disse...

Vê que as horas se repetem porque o relógio é circular!... :)

musalia disse...

nunca um texto exprimiu tão bem o que vai na minha alma...obrigada, Cacau!

beijos.

Madeira Inside disse...

Olá!!
Bom!! Muito bom...:))

Claro que combinamos um café, why not?!

:))
Bem, voltar ao trabalho!!
Ah! E aos estudos....
Bjs