quarta-feira, dezembro 12, 2007

O corpo sustém um laço com a cama onde dorme. Tal como os ouvidos guardam serenamente aquela voz de que tanto gostaram. Quer na alma quer no corpo, estamos perante um armazém de coisas de que não nos podemos livrar. Temos gavetas minúsculas onde guardámos palavras, livros autênticos de emoções do passado. Nos olhos encontram-se todas as fotografias tiradas ao longos dos anos, todas as faces que nos disseram algo a mais do que tantas outras. Nos seios deitam-se segredos, Outonos e primaveras em que fomos mais felizes, raízes do mundo, fonte de fome e saciedade no deslizar pela ponta dos mamilos acordados.
Na boca, na textura dos lábios as ruas de corpos por onde nos alimentámos, os espelhos do Tejo criados quando uma boca prova outra, quando uma língua persegue a indefinição do trajecto de outras tantas.
Nas mãos como no resvalar dos dedos descobrem-se as almas por dentro das almas. A morte que testemunhamos no adeus, na cadência moribunda do último acenar. Com as mãos apagam-se caminhos, escondem-se lágrimas, começa-se um tudo de novo.
No coração incendeiam-se hábitos, tingem-se madrugadas de amores antigos na expectativa dos que ainda poderão germinar. Na pele usada do coração consomem-se sonhos de poemas escritos num tempo faminto de juras de amor. No coração agora já nada vive, respira, luta.
No sexo, na gruta geométrica do desejo acordam momentos turvos de prazer, do primeiro preliminar ao último orgasmo. Vestem-se sons agudos e destemidos graves e no meio da arena multiplicam-se os corpos, a nudez ambígua das faces sem nada que as diferencie. Desarrumam-se corpos inteiros na diversidade de beijos, línguas, mãos, pele com pele, sexo com sexo. Alimentam-se fantasias adormecidas e nada se questiona a não ser o desejo que se escorrega como larva pelas bocas famintas. Guardam-se os movimentos exaustos, a secura da boca, os cabelos transpirados, o calor, como fuga de qualquer sentimento.

1 comentário:

oldmirror disse...

Bom texto, bons sentimentos.