domingo, janeiro 27, 2008

Abres a janela do meu quarto devagarinho como se achasses possível que eu não acordasse. E mesmo que me mexa não venhas, não te deites na cama de onde acabaste de sair. É essa a quebra. A quebra dos corpos que em poucas horas se prenderam no calor um do outro. Levanta-te e vai à janela fumar um cigarro, é também assim que deixamos de estar sozinhos. Com a cidade a acordar pela madrugada e eu deitada a fingir que durmo. Que não noto imediatamente o frio. O vazio agora de novo lado a lado comigo.

Prefiro manter-me de olhos fechados. Voltar ao silêncio das horas que já não se repetem. E aí sinto, sinto-me de novo viva. O corpo que sente o toque preciso. A invasão territorial que acontece quando afastas as minhas pernas com a segurança de quem sabe o que faz. E tu sabes o que fazes. Soubeste até que ponto podias ir e sabias também o momento em que me renderia e com voz de fúria te diria: Fode-me. E talvez tenha sido esse o momento em que percebi que já não podia voltar atrás. Eras tu que estavas dentro de mim e eras tu que controlavas tudo. A tua mão a tapar-me a boca e a outra apoiada na minha anca. Eras tu. E eu já não queria outro que não tu dentro de mim. Não posso voltar atrás. Aconteceu. E mais fundo não seria possível. E depois eu e o cheiro a orgasmo na cama e no ar. E a tua voz de satisfação ao meu ouvido: Quem diria que um dia estarias nesta situação. Ninguém diria. Só eu própria. Mas mais ninguém diria. Nem tu, nem mesmo quando um dia com o álcool em demasia liguei-te a dizer que te queria. Não sabia quando e de que forma. Mas queria-te. E agora já percebi o como. Tu dentro de mim. E eu a expulsar-te já com o prazer consumado.

Fumas o cigarro até ao fim. Não deixas espaço para mais uma passa. Já olhaste para trás e procuraste-me com os olhos. E é de olhos fechados que te vejo. E é com os movimentos do teu corpo na minha varanda que percebo que isto não vai ficar por aqui. Queres mais. E eu quero que tu queiras mais. Quero que voltes para a cama e sintas como o meu sexo está molhado, como seria fácil um barco navegar nas minhas águas. Quero que voltes e comeces tudo de novo. Sem preparação. Sem qualquer permissão. Sem sequer tentares perceber se os meus nãos querem dizer sim. E facilmente eu entendo que és igual a mim. E talvez por isso a minha rendição a ti.

Olho para ti agora de olhos abertos e a boca entreabre-se para falar, para te dizer – vem, povoa-me de novo, acrescenta palavras aos meus ouvidos, faz-me acelerar, marca-me os seios e prende-me o cabelo até eu me sentir preparada para que saias. Que saias de dentro deste espaço que quer ser novamente teu.


Olho para ti agora de olhos abertos e de lábios cerrados. Levanto-me da cama ainda de corpo nu e acendo um cigarro. Olhas para mim. Sorris e aí noto uma ternura. Algo enjoativo que salta dos teus olhos. E nesse segundo mal parido lembro-me de quem sou e do que tu não podes vir a ser.

- Vou tomar um banho. Vemo-nos amanhã como habitual?
- Posso ficar mais um pouco se quiseres. Podemos fazer qualquer coisa, está um dia tão bonito.
- Não me apetece. Mas adorei estar contigo. Um dia repetimos.
- Mas…
- Vá, até amanhã.

E depois o som de mais uma porta que se fecha.

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