sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Subo os degraus que me ofereces. Como as folhas que se acumulam nos meus livros. Oiço a voz ao longe. A caminho da pele que submerge no corpo. Pedes-me textura ao que sinto. E só te sei entregar num cesto as palavras que não esqueci.

Queres que escolha um espaço. O espaço do reencontro. O retardar de um reconhecimento que já começou a ser feito. Cresces em altura no que sou. E tenho medo que num determinado instante deixe de te conseguir observar. Se o caminho for demasiado. Se eu for vaga no que te dou de mim. Será ainda possível chegarmos lado a lado?

Castigo, tantas vezes, a vida que me chegou às mãos. Maltrato-a para a conseguir sentir. Digo-te ao ouvido: são por demais as vezes que me esqueço do que sou. Que me esqueço de que ainda consigo sentir. Sentir o dedilhar dos dedos sobre a crosta do meu coração. Digo-te ainda mais perto, do sítio onde a voz se confunde com a respiração: Se me tocares não saberei ao certo que toque é esse. Não saberei ao certo onde me tocas tu. Não sei onde está o epicentro do meu sentir. E mesmo assim te digo que estou aqui. Aqui. Do lado em que tu me puxas.

Dizes-me: a minha fé por ti é inabalável.
E se eu fechar os olhos do mundo quase que posso acreditar. Não em ti. Mas nessa fé que me transborda em harmonia. Nessa fé que não seria possível existir se não fosse tua. Se não pertencesse ao melhor de ti. Essa fé.

Reconstruo as janelas do passado que se encobre de presente. Misturam-se. Não. Eu é que as misturo. Na oportunidade remota de me saber construída. Não de cimento mas de madeira porque assim facilmente poderei arder de frente para ti. E das águas que se bradem dos teus olhos poderei ser salva. E viver. Poderei reaprender a viver com tudo o que sou. Toda a matéria-prima que te esqueceste de alienar. Sou eu. Poderia gritá-lo se a voz se aguentasse. Se tu ainda te encontrasses aqui.


Cais-me de novo no corpo, na facilidade com que se ouve o ruído do todo que está lá fora. Cais-me de novo no corpo como abutre desfiando a carne já solta da pele. Sou de pouco alimento para ti. Para a fome que te provoca espasmos de angústia. Sou-te pouco porque foi de ti que me libertei em vez de partir.

E ainda te consigo ouvir quando dizes:
No engano do acto fruto do amor fica quem se nega a fugir da dor.

Partimos.







“There was a child who was born to be the one who comforts me
Who was born strong and brave and holy, loves me rough and tenderly
Can it be understood the reaons why do you belong to me?

I need the steady of you and I’d give you everything
That i could cut this sweet precision from beneath my tender skin
There is a way, there is a way that you could save me from this

Would you promise to be king?
Promise to be kind.”


Mirah – Promise to me

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