sábado, outubro 08, 2005

Lembras-te dos tempos em que carregávamos as noites ás costas, saímos porta fora com uma vontade louca de namorarmos
todos os dias num sítio diferente. Dizias tantas vezes: olhar-t nesta noite é amar-te como pela primeira vez que o senti; tinhas o dom das palavras faladas, era das coisas que mais me atraía em ti, eu escrevia e tu falavas com a mesma sensibilidade e tacto. Quantas vezes, já passados anos, andei pelas mesmas ruas à tua procura, à espera que também tu tivesses pensado em mim e saísses porta fora como se estivesse a teu lado. Sempre a teu lado como tantas vezes jurámos.
Pensei ser fácil enganar a tua ausência, a tua figura sentada no balcão gasto da cozinha perguntando-me tudo e mais alguma coisa que te ias lembrando à medida que o efeito do gin se notava, a sequência que era quando chegavas por trás em passos dormentes e me abraçavas, sentia o mundo todo em mim quando me virava e nos olhávamos com a paixão escondida no amor que já parecia adulto, amadurecido...pronto para ser para o resto da vida.
Sentiste também tu dor quando percebeste que afinal tinham prazo os nossos sentimentos, que os gestos se cansariam, que o gosto dos nossos beijos não tinham vida própria e precisavam de mais para serem como os primeiros, sentiste meu não-amor, a desilusão do fim prostrado à nossa frente, entre os nossos corpos
já tão indiferentes?
Sei da vida o quanto ela me mostrou, o quanto ela me apaixonou e me fez querer mais, sempre mais...mas do amor, do amor...sei aquilo que fomos quando tudo o que dizíamos era verdade, quando ninguém conseguia abalar o nosso palácio de rosas secas...sei aquilo que escrevemos no mar, as promessas que agora são vento e deixaram de ser nossas...Do amor sei apenas o que foi o nosso, o que construímos julgando sermos fortes, sermos capazes para enfrentar todos os obstáculos fossem pequenos ou grandes, e vencemos tantas lutas lembras-te?
Ando tantas vezes de olhos fechados para não perder as nossas imagens, para continuar com todos os nossos sentimentos intactos, disseste-me que tínhamos de abdicar do amor, do passado, dos anos de vida em comum. Mas digo-te, do amor não se abdica, ou conseguimos ultrapassá-lo ou fingimos que já o fizemos;
Sei que o tempo já não é nosso e que já não faz sentido contar os segundos até te ver novamente, já não te tenho à espera no bar depois das aulas acabarem, nem te tenho a entrar escondida na minha casa de madrugada.
Sim o fim já há tanto que aconteceu...mas do amor...não me desengana a dor que é rever-te de olhos borrados à minha frente numa hora de Dezembro, de malas na mão à procura de outros sonhos que não os nossos.

5 comentários:

M. disse...

Gostei muito do teu texto. Foi um prazer ler-te. Goostei especialmente da parte em que dizes: 'do amor não se abdica, ou conseguimos ultrapassá-lo ou fingimos que já o fizemos'...
E sim, eu também penso que do amor não se abdica...
Um abraço...

Me, Myself and I disse...

Mais um texto maravilhoso que me transpôs para outra realidade... paralela à tua mas mais distante! Bigadú pela deliciosa partilha... :)
Retenho: "(...) nos olhavámos com a paixão escondida no amor que já parecia adulto, amadurecido... pronto para ser para o resto da vida (...)".
See you.

André L disse...

Olá Cacau. O amor é como tudo na vida, quando se ama com alma e esse amor não é correspondido, fica no "ar" sempre o vazio, o martírio. Muito bem focado "Relações" (sim por que compara com muitas outras), deixo um
bjo
ps:"A-Do-Rei"

Assumida Mente disse...

Cacau, que força nas tuas palavras!... que força, imagino, nesse amor! Do amor... desse amor, pouco posso dizer porque são sempre diferentes e únicos cada um desses amores... mas das palavras não posso deixar de dizer: arte, arte em estado puro!
Parabéns pela arte... e que venha a ser também em ti arte, o amor!

Anónimo disse...

O melhor é saber que o amor tem multiplas cores, é como um calendoscópio que colore a vida. Fala varias linguas, tem cheiros inconfundíveis e acima de tudo nos ensina a perceber a magia em cada palavra dita, em cad silencio compartilhada e em cada novo amor que começa...