domingo, outubro 02, 2005

Quero deixar de chegar perto das pessoas, quero ficar sempre a uma distância segura para evitar cair,
Para evitar olhar demasiado para dentro.
Quero que as pessoas deixem de estar perto de mim.
Não as quero conhecer. Não quero abraços nem beijos.
Quero que me deixem sozinha.
Não preciso que comentem a cor do meu cabelo,
os meus olhos rasgados, se engordei
ou emagreci, se estou gira ou apenas se passo por.
Não precisam de fazer risos cínicos para isso estou cá eu,
se não me querem ouvir que vão embora,
se não querem falar nem precisam de abrir a boca.
Deixei de querer fazer fretes e nem preciso deles para nada.
Vão para casa. Esqueçam a minha cara.
Esqueçam tudo o que vos disse, ou pensei que disse.
Da minha boca não sai nada que se possa aprender ou reflectir.
Só digo asneiras e quando me enervo só saem palavrões.
Não sei discutir nenhum assunto mais sério porque me troco toda com as palavras.
Não sei elogiar porque acabo sempre por exagerar.
Treinei-me para fazer os outros felizes e já nem isso consigo.
Treinei-me para ouvir os desabafos dos outros e a meio do paleio apetece-me dormir.
Treinei-me para amar e tornei-me numa cabra insensível.
Treinei-me para ser quem sou e agora só me queria esconder dentro de um poço.
Nas minhas mãos poderia estar o orgulho de tudo o que escrevi, de tudo o que toquei,
de tudo o que quis fazer meu - nas minhas mãos apenas está o espelho da minha face.
O espelho partido do que sou.
Tentei ser outra, aquela que todos queremos ser.
Tentei ser irresistível tornei-me insuportável.
Tentei ser bela tornei-me alguém que usa demasiados acessórios coloridos.
Tentei tornar-me culta tornei-me em alguém que gosta de livros de fazer chorar sem magia alguma.
Tentei tanto que me tornei numa peça de teatro onde tudo em mim são declarações não sérias.
Fujam. Sacudam-me da vossa mente e dos poros do vosso corpo. Se me virem fechem a porta.
Assim adormecerei para o sono engolir quem sou.

8 comentários:

-X- disse...

Não, Cacau, sê só tu, pura e simplesmente tu. Tudo o resto acaba por ser irrelevante se não formos nós, se não nos sentirmos nós. Eu aprendi isso de uma maneira difícil... e doi, doi sempre quando nos estilhaçamos e depois nos deparamos com os cacos. O sermos felizes implica sempre ser-se em função de nós próprios e não dos outros. Se os outros não nos aceitam assim também não nos merecem. Posso não te conhecer no mundo real mas só podes por certo ser uma pessoa fantástica.
Bjs

Anónimo disse...

O ponto de partida (e todas as chegadas são partidas um dia) é o caos.

Todas as ilusões contêm sempre um reflexo de si mesmas - e esse mesmo que nos magoa faz-nos reviver no minuto seguinte os momentos mais belos. :*

André L disse...

Olá Cacau! É verdade por vezes é preciso tempo e espaço. Identifiquei-me muito com a tua descrição. Afinal somos nós os persistentes que dominamos o mundo looOool
Bjufas

Anónimo disse...

Pra kê priminha...pra kê?

Perto d ti estou tão mlhor d k longe...

***

Anónimo disse...

Queres mesmo que as pessoas vão embora? Queres mesmo que deixem de dar-te abraços?
Será que, pelo contrário, não estarás e precisar de um grande, grande abraço?
Será que, pelo contrário, não estarás a precisar de um ombro, de uma mão amiga?
Será que a pessoa que escreveu essas palavras, és verdadeiramente tu e que elas representam mesmo aquilo que tu queres?
Força aí!
Um abraço grande.

Tania disse...

Atrevo-me a dizer-te o que me foi dito ha' uns anos atras, quando tudo perdia o sentido.
'As vezes tudo se torna tao pesado e insuportavel que so' fugir. E nem malas fazemos. Enbarcamos, fugimos, deixando tudo para tras. Mas cedo a sensacao de leveza desaparece, quando percebemos que carregamos connosco a mala mais pesada de todos... e que somos nos proprios.
Nos somos quem somos, Cacau. Podemos tentar mudar tudo...tentar mudar-nos a nos proprios... mas sabes que mais? A mala mais pesada somos nos, mas nao porque estamos errados. E' por isso mesmo, por sermos nos proprios. E agora diz-me, onde esta'o mal nisso? Pelos comentaios que aqui vejo... ninguem quer que mudes :P
;)
***

Anónimo disse...

Continuas a escrever como ninguem.É sempre bom ler as tuas palavras.
Molanguinha

Roberto Iza Valdés disse...
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