Sei exactamente quantos passos dás da porta da minha casa, ao cadeirão verde sujo que tenho na minha sala. Dás exactamente sempre os meus passos. Esquivas-te sempre nos mesmos sítios e sentas-te, sentas-te sempre…com a delicadeza de um ganso, com a serenidade de uma lua cheia. Bebemos chá. Tu chá quente, eu chá frio. Somos verdadeiros opostos, já to tinha dito, penso que sim. Encadeias-me quando os teus lábios tocam na chávena fervente, incendeias-me quando sugas o chá pela tua garganta, encadeias-me quando mordes os biscoitos que te ofereço. Encadeias-me de tal forma que sinto necessidade de cruzar as pernas e fechar a imaginação. Mas falamos, falamos muito, e eu falo sem saber do que falo, só para tu me ouvires, para decorares a minha voz de tal maneira que te fartes mas que ao mesmo tempo tenhas muitas saudades. Sim, a saudade é algo que combina contigo. Que se prende à pele. Estamos juntas duas vezes por semana. Sempre na minha casa. Sempre com o mesmo tipo de chá. Dizes que gostas de resistir às mudanças. Que é um jogo. Que gostas por vezes de te sentires na repetição, na rotina dos dias. E sorris com os olhos. Esses olhos.
Gostas tanto da rotina que voltas. Todas as terças e todas as quintas. Pergunto-te porquê, o porquê que me vires visitar. Dizes para não te fazer perguntas para as quais não tens resposta. Dizes que existe algo em mim que te atrai, mas não o suficiente para te entregares, para deixares ficar a mão quando a minha te toca ao te entregar o chá. Dizes que gostas da minha presença, porque sou misteriosa. E apetece-me mandar-te embora, porque de todas as vezes que cá vens, apetece-me entrar dentro das paredes e ficar por lá. Esquecida, cimentada. Presa. Mas longe de ti o suficiente para não me aproximar.
Gostas tanto da rotina que voltas. Todas as terças e todas as quintas. Pergunto-te porquê, o porquê que me vires visitar. Dizes para não te fazer perguntas para as quais não tens resposta. Dizes que existe algo em mim que te atrai, mas não o suficiente para te entregares, para deixares ficar a mão quando a minha te toca ao te entregar o chá. Dizes que gostas da minha presença, porque sou misteriosa. E apetece-me mandar-te embora, porque de todas as vezes que cá vens, apetece-me entrar dentro das paredes e ficar por lá. Esquecida, cimentada. Presa. Mas longe de ti o suficiente para não me aproximar.
5 comentários:
Tão lindo Chocolatinho :D
Isabel
:) admiro muito forma como
(d)escreves sentimentos. :)
***Azuis
Olá, descobri entrada para este blog por outro. Este texto relembra-me gestos exteriores e interiores de um quotidiano.
Intenso e bonito, como sempre...
Lindo!
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