terça-feira, maio 30, 2006

Feira do Livro - I

A primeira vez que me cruzei contigo…faz hoje três anos desde que te vi pela primeira vez. Na feira do livro. Andavas atarefada com o calor, tinhas o rosto rosado e cara de poucos amigos. Tinhas uma mochila laranja e muita confusão dentro dela. Garrafa de água na mão. Sacos na outra. E andavas. Lutavas com a tua própria pele, com a comichão causada por aquele dia quente. Cruzamo-nos várias vezes naquele dia. Acharás agora estranho se eu te disser que me apeteceu seguir-te nesse dia para ver onde moravas? Fico embaraçada sempre que me lembro disso. Mas senti uma vontade absolutamente fascinante de não te perder o rasto mais. Passados meses quando já saímos juntas…contei-te que quis ficar perto de ti desde esse dia. Assustaste-te. Não parava quieta na cadeira. E bebias muito gelo com sumo. Já te disse que gosto quando ficas atrapalhada?

A segunda vez que te vi, ganhei coragem e meti-me contigo. Estavas a tomar chá (de menta, lembro-me tão bem…) e lias um livro sobre filosofia. Observei-te durante algum tempo. Reparei que sempre que mudavas de página bebias um trago de chá, levavas muitas vezes a mão direita ao cabelo e por tempos rasos os teus dedos por lá se mantinham. Os teus olhos abriam-se muito como se comessem lentamente as palavras que descobrias. Fui ter contigo convidei-te para um jantar. Coraste. Franziste a sobrancelha. Tossiste. Olhaste à volta inúmeras vezes. Não disseste nenhuma palavra. Depois acenaste com a cabeça. Escrevi num papel a hora e o sítio e deixei o meu número. Sorri e fui-me embora já convencida que não te veria tão cedo. Mas vi-te. E revi-te e continuo a ver-te. Mesmo que distanciada.

Dia seguinte. Largo do Carmo. 21h. Cheguei meia hora mais cedo. Andei feita louca pelo largo. Falei comigo em silêncio. Insultei-me outras vezes mais. 21h e ponto lá estavas tu. Com os passos tímidos. Com um sorriso contido. Não trocamos nenhuma palavra até ao jantar. Olhamo-nos apenas. Tremia eu toda por dentro (sentiste?). No jantar soltas-te ligeiramente, pouco falaste de ti. Falamos de tudo menos de nós. Trocamos os nomes já no segundo copo de vinho. Partilhamos histórias. E sorriste. Sorriste descontraidamente. E eu sorri contigo. Quis continuar a ficar ali contigo.

Continuamos a sair. Continuamos a conversar. Começamos a sair para todo o lado juntas. Passamos a partilhar mais do que histórias. Começamos a partilhar a nossa essência. A nossa estranheza. A nossa pele. A nossa face. Até à ruptura…partilhamos tanto. E hoje ainda me lembro dessas tempos. Não os perdi. Hoje ainda continuo a querer ficar contigo. Como da primeira vez que te vi. Mesmo com os estilhaços que passaram a existir entre nós.

Hoje voltei à feira. Sem a confusão do costume. E pareceu-me ver-te ao longe com a mesma mochila laranja e o calor a te atropelar os sentidos. Quis que fosses tu. Mas a alma engana-nos bem.

Até para o ano.

9 comentários:

musalia disse...

memórias belas guardas desse encontro...mesmo com estilhaços.

beijinhos, cacau :)

Anónimo disse...

Todas as memórias valem a pena...
Beijinho*

PreDatado disse...

A feira do livro ainda não acabou.

relatosdeumruivo disse...

Como eu disse num poema que escrevi: "...pedaços rasgados de puras lembranças."
Parabéns à vossa história de amor.

Francesca disse...

Meus queridos...ficção...nem tudo o que aqui se lê é verdadeiro... mas tudo o que aqui é escrito é sentido por mim...quer seja ficção...quer seja realidade :)

Obrigada por continuarem a me ler!

Beijo

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Susana Fonseca disse...

Os livros, o mundo sabedor dos livros, espaço de encontros e desencontros, espaço de palavras, muitas ou nenhumas...

Anónimo disse...

O Amor é mesmo assim...raramente ficamos c quem realmente amamos...n deixa de ser irónico..

Gostei do teu blog

Besitos de uma Anónima

Anónimo disse...

è estranho reramente ficamos com quem realmente amamos...não deixa de ser irónico...

Ass: Anónima