quinta-feira, maio 18, 2006

Não, não te consigo dizer as coisas. Porque as palavras deixaram de sair. Porque as conversas se perderam. Porque as conversas são controladas. Porque nos somos controladas. Porque quando as coisas estão prontas para ser ditas. Eu fujo. Tu foges. Todos andamos no mundo a fugir. Porque é a saída mais óbvia. Porque é a que deixa menos passos. Porque é a que nos faz adormecer mais cedo.

Porque fugimos de quem beijamos. Porque fugimos de quem fodemos. Porque fugimos de quem nos oferece o coração. Porque fugimos de quem não nos oferece nada. Porque fugimos de nós próprios. Porque deixamos de saber respirar. Porque deixamos de saber falar. Porque deixamos de saber sonhar. Porque nos deitamos nas nossas incertezas. Porque as certezas nunca são certas. Porque morremos. Porque chega a um ponto em que deixa de doer. Porque os sentimentos se constroem para serem comidos. Porque as vontades nos corrompem a alma. Porque nunca estamos satisfeitas. Porque as respostas passaram a ser previsíveis. Porque nos somos previsíveis. Porque o que era ficou no outro dia. Porque quero dormir. Porque as insónias fodem tudo. Porque eu fodo-me toda mesmo sem me aperceber. Porque todos fodemos todos. Porque no fim tudo arde em mentira. Porque a verdade mantém-se escondida. Porque é assim que está certo. Porque as cortinas existem. Porque as capas não se deixam corroer. Porque é assim. Porque escolhemos ser assim. Porque a vida não é fodida nós é que a vemos como tal.

E agora?
Agora nada. Continuamos a viver e a nos questionar.

Sem comentários: