segunda-feira, abril 16, 2007

Retalhos do coração

"E tive-te, atrás do espelho, todas as manhãs da minha vida. Porque foi sempre para ti que me quis bonita, mesmos nos dias escuros. É em ti que penso, quando escolho a roupa ou escovo o cabelo, todos os dias. Na possibilidade de te encontrar, no acesso de uma esquina. Lisboa é tão grande e tão pequena - porque não havia de te encontrar? Queria ser eu mesma, nesse encontro. A mesma, com a luz das rugas que não faltavam no tempo em que nos metíamos por dentro do corpo um do outro como se sozinhos fossemos apenas pedaços de um corpo mutilado."


Inês Pedrosa in Fica comigo esta noite

2 comentários:

Anónimo disse...

"Dispo-me dos véus dos teus olhos. Já não me reconheço em ti. Ausento-me da tua face espelhada para ter a certeza de minha presença longe dos grilhões da tua incompletude. Abandono as vestes das tuas mãos para ser o corpo da despedida, o movimento lento, a palavra não dita."


Helena Sut

nameless as a desire disse...

Vinícius de Moraes

(…) Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio.
(…) Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito.
(…) Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante
E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.
(…) Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.