segunda-feira, dezembro 31, 2007

5

Enche-me o corpo. Todos estes espaços completos. Os detalhes da tua vida. É aqui que te reconheço. Tu sabes. Agora podes adivinhar todas as linhas rectas, todos as paragens do meu eu.
Podia não entrar, esquecer-me da entrada para a tua casa. Do nome da rua que nunca sei dizer. Sim o nome, as letras que o formam e que fazem dele o que é. Não esqueço. Não invento. Apenas sei e sigo todo o trajecto até ti.
Reaprendi a respirar esta cidade, a mais imperfeita das amantes, quando no momento no arredondar dos segundos, com todas as interrogações possíveis te vi a chegar vinda da tua porta. O sorriso. Mais uma vez o sorriso a anteceder a continuação de tudo isto.
Regresso a Lisboa e estou no meio dos carros, da poluição enfurecida, nas mãos frias das pessoas. Estou no meio do nada como se de uma infertilidade se tratasse. E no entanto, tu.

Espero-te. Vens de um destino que parece ser do outro lado do mundo. Ultrapassas o mar, a terra e estás quase perto. A tua imagem perto. E agora são as palavras indispensáveis. A sua reciclagem é feita agora. Como pela primeira vez os nossos olhos se encontrassem. Despem-se e o medo nessa circunstância deixa de existir. Estamos nuas. E pouco a pouco descobrimo-nos no lugar onde as mãos não chegam.
Chegaste. Senti-o quando ainda vinhas distante. No meio da cidade. Lisboa. Perguntas-me quando foi. Quando é que o fogo tomou conta dos sentidos? Quando foi que cheguei? – perguntas. Digo-te que não sei responder. Que já cá estavas. Quando? Desde sempre. No momento anterior ao começo de todas as histórias.
Dou-te a mão e trago-te ao meu lugar. Ao lugar que tantas vezes de olhos abertos imaginaste. Eu já te sei. Há tanto tempo. É algo imperturbável este saber. Não o contestas. Entregas-me a tua boca. E ficámos à janela da cidade. Lisboa.

Sem comentários: