quinta-feira, dezembro 06, 2007

E poderias dançar se houvesse chão neste lugar incompleto. Poderias imaginar que estavas sozinha por dentro destas paredes lisas. E talvez conseguisses de olhos fechados perceber mais alguma coisa.

Sei que te esqueceste de tanta coisa. A vida está gasta e com a vida estás tu. Esqueceste tanta coisa. E as raízes do teu corpo podres. E as tuas mãos de onde nasceram as palavras divididas ilesas. Dança. Enquanto a tua pele ainda consegue sentir a noite. E se fechasses os olhos no momento em que me poderias ouvir, faria a diferença?

Olho. E nesse instante, sou. Sem braços. Sem pernas. E não faço a diferença. Sou como poderia não ser. Não há distância. E já percebeste que a dança, que o contacto entre qualquer artéria nossa ainda viva não acontece. Não pode. Tornámo-nos incompatíveis. Eu sou e poderia não ser. E tu estás gasta como a vida que aprendeste a pisar. Vês? Olho.

Retiro-me a pouco e pouco daqui. Do lugar incompleto sem nome. E se não tem nome não existe. E então nós não podemos ter existido. Juntas. Novamente a ligação que se perdeu. E se nunca aconteceu? Não faz mal. Retiro-me na mesma. A pouco e pouco. E tu ao longe poderias estar a dançar. E eu aqui, ainda a revisitar todos os passos do teu corpo na dança inexistente. Estou a ir. E já só sou cabelo, os caracóis. Respiro pelos fios desconcertados de cabelo. E ainda aqui estou mas já vejo a porta. Não posso olhar para trás. Porque se olhar posso ver ainda algo a respirar. Mas não tu. Tu esqueceste-te de dançar e já não tens lugar em ti onde eu possa renascer.

Ocupamo-nos do vazio. do vazio colorido onde pensamos encontrar a fé.

O vazio e nós e agora a morte.


1 comentário:

Anónimo disse...

Nossa, adorei o seu blog!

Bj´x

Paris
http://jesenssonmanque.blogspot.com/