sábado, janeiro 19, 2008

Poderia contar os dias em que fui realmente eu própria. E esses dias não chegariam para aqueles em que a solidão me invade. E a angústia. E a insegurança. E tudo aquilo que nem chego a ser. E poderia chegar o dia em que sentisse que estaria preparada para arriscar. Deixar-me ir mesmo que os passos que desse fossem falsos e eu caísse. Mais uma vez. Menos uma vez. Talvez seja isso. Ainda não caí as vezes suficientes. É preciso mais. O caminho é longo. Nunca esteve muito perto. É o que sei e no entanto sei tão pouco.

Uma farsa. No fundo todos temos um lado que se esmera em falsidade. E também existem aqueles que queremos esconder e fazemos o oposto do que sentimos.

Não posso contar os dias em que fui verdadeiramente feliz. Não existem. Sou por natureza insatisfeita. O tudo parece-me o nada. o nada colorido. Mas continua a ser um nada. e eu quero o tudo. Tudo mais o tudo. Mas não o mereço.


E tu dizes: és tanto. Sabes disso não sabes?
E eu respondo que sei. Mas não sei. Não sei nada. e precisava que então me explicasses porque sou tanto.

E então dizias: a ideia que tens de ti é errada. Imagina as cortinas que mais gostavas de ter na sala da tua casa. Tu não és as cortinas. Não. Tu és o material de que as cortinas são feitas. E aí és um tanto. Mas não podes ser tudo. Não existe um tudo nas pessoas.

E então repito: sou nada.

És mais do que isso. Tens sempre de ser mais do que isso. Nem que seja pelo teu sorriso. Sim penso que o teu sorriso vale uns quantos pontos.

O sorriso. E depois a boca. E mais tarde os olhos. E ainda mais longe as tuas mãos e o que fazes com elas. Sim de facto as tuas mãos dão-te mais algum avanço. De que são feitas as tuas mãos?

Não sei. Continuo a não saber nada. mas isso tu sabes porque parece que já sabes tudo.

E o beijo. o quente que ultrapassa os teus lábios e o orgasmo que pode nascer da tua língua.

Mas que percebo eu de orgasmos?

Provocas-los. Portanto deves perceber alguma coisa.

E depois a voz. Sim falam da voz. E lembro-me que é voz de cama. Voz que se arrasta. Voz que queima. Voz que excita.

Percebo. Tenho uma voz que tem algum efeito. Quanto? Quanto é que dás pela minha voz?

Tudo. E novamente não existe um tudo. Então existe um quê?

Repito: nada. nada que nasce do nada.

Contas-me uma história?

Se mentir continua a ser uma história? Então conto-te a minha história.

Era uma vez uma miúda que achava que poderia ser tudo e depois apercebeu-se que era muita idealista e fez-se nada. e continuou a ser nada. nada.

Mas quem és tu?
Nada. sempre o nada. é a única coisa que tens de saber sobre mim.


Acho que me posso apaixonar por ti. Tens qualquer coisa em ti que me enfeitiça. Achas que me poderia apaixonar por ti?

Não. Não acho.

Porquê?

Porque eu nunca serei a pessoa certa.

És sim! Eu sinto que és.

Sou a pessoa certa para mim. Entendes? Sei pouco de mim mas ainda sei alguma coisa.

E fugias comigo?

Fugir? Não. Estou farta de fugir.

Mas ficavas comigo esta noite?

Sim. Esta e a seguir. Depois já seria repetição a mais.

Vou-te buscar daqui a meia hora.

Anda.

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