quarta-feira, janeiro 30, 2008

Repito-me, sabes? Sinto que preciso de o fazer. Para me convencer de alguma coisa. De um algo mais. E talvez repetindo-me sinto-me mais perto de mim. Das minhas verdadeiras necessidades. Volto à infância e sinto que não fui feliz. Já nessa altura vivia uma farsa. Ria muito porque lembro-me que o riso atraía pessoas há minha volta. Inventava histórias como aquela em que disse quase chorando que tinha sido adoptada. Disse à freira porteira lá do colégio. Tinha uns 6 anos. Dizia que tinha sido abandonada pela minha mãe chinesa à porta da igreja e que os meus pais me tinham adoptado e por isso é que tinha olhos rasgados e a começaram a chamar-me chinesinha. E eu gostei. E a partir daí comecei a viciar-me em ser quem não sou. Um ano antes, ainda andava no infantário levei uma faca para a escola. Lembro-me perfeitamente dessa manhã, a mãe deixou-me no balcão da cozinha a tomar o pequeno-almoço, abri a gaveta dos talheres, tirei a faca e guardei-a nas minhas calças de ganga. Depois no infantário disse ao rufia da nossa turma que tinha a faca e assim ele podia matar a sua inimiga que se chamava Joana. E lembro-me de estar a descer o escorrega e ter as educadoras espantadas a olhar para mim. Nessa altura já tinham ligado aos meus pais. Fiquei de castigo mas disso não me recordo.
Depois lembro-me de outras coisas, como os beijos que arrancava aos rapazes. Tinha 5 anos e tinha 5 namorados. E atrevida agarrava-os pelo colarinho e beijava-os. A minha mãe disse-me anos mais tarde que eles fugiam. E eu gosto dessa ideia.
Lembro-me das minhas festas de anos. A última que tive tinha 9 anos e a partir daí nunca mais gostei de comemorar o aniversário. Lembro-me que depois uns dos aniversários que gostei mais foi quando fiz penso que 20 anos, dormi até às 18h e depois fui ao meu jantar, bebi imenso, ri-me muito e estava bem. Dancei até de manhã e acho que estava feliz. Acho que foi o último que apreciei. Acho.
Avanço uns anos e lembro-me da primeira vez que senti o sexo de um homem a dirigir-se a mim curioso. Devia ter uns 13 anos, ele era mais velho e estava a estudar para ser padre. Eu gostava de o provocar e ele não se fazia de acanhado. Corria atrás de mim, puxava-me para o seu colo e beijava-me e depois eu sentia algo a crescer. Não me assustava. Não, isso não. Deixava-me sequiosa e portanto eu continuava a provocar. Até que um dia ele agarrou-me com muita força e levou com um pontapé nos ditos. E eu fui embora airosa sem olhar para trás. Anos mais tarde fiquei a saber que não foi para padre e pelos vistos continuava feio e parolo. Depois tive mais umas quantas aventuras sem nunca esquecer o efeito que as mulheres tinham em mim. Fui adiando, adiando até que resolvi assumir. A experiência começou pessimamente. Não faz mal. Agora sei reconhecer uma puta a milhas de distância. Serviu de aprendizagem.

Entretanto passaram-se 7 anos e aqui estou eu. Tenho dúvidas se algum dia amei e dúvidas se alguma vez me apaixonei, fora isso, penso que vivi tudo de forma muito intensa. Acho que nunca parti um coração, ou melhor, posso ter aberto mais uma fenda ou outra mas partir nunca. Iludi muitas vezes, é verdade. Manipulei. Vendi muitas palavras e menosprezei os sentimentos dos outros. Fui algumas vezes calculista, fria e distante. Mas o pouco que dei podia ter sido melhor valorizado.

Tenho dúvidas se fui alguma vez amada. Portanto, penso que eu e o amor estamos quites. E assim, a vida pode continuar.



E penso que só tenho mais uma coisa a dizer:

Fuck you all.

3 comentários:

Helena disse...

just

Helena disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

sentia falta de me rever nas palavras dos outros. o amor é mesmo um filho da puta.