segunda-feira, abril 13, 2009

Preciso de ti apenas à noite. Não te posso dar mais do que as minhas noites. Começamos pelo final da tarde contigo à porta do meu trabalho, já chateada porque eu nunca entro no teu carro à hora combinada. Fazes aquela fita que se desarma quando te olho nos olhos. E aí começas a sorrir. A sorrir para mim com um olhar de quem compreende que mal me consigo manter de pé. Depois pões o rádio mais alto na minha estação favorita e vamos para casa. Para o lar decorado à minha maneira mas que depois de algum tempo passou a ser também à tua maneira. Como se nos fundíssemos também no gosto pelas coisas.
Chegamos e vamos directas, cada uma para a sua casa de banho. É o nosso momento de solidão. Ao fim de um dia separadas. Tomamos duche e vestimos os nossos robes. O meu cor-de-rosa vivo. O teu azul de mar.
Preparas um chá enquanto eu começo a cortar fruta. Morangos. Tangerinas. Ananás. Kiwi. Depois vamos para o sofá, pousando as coisas na mesa. E falas pela, primeira vez, neste já inicio de noite “Boa noite a ti que em mim habitas”. Sorrio com um beijo nos teus lábios. Passo a minha mão pelos teus caracóis. Lembrando-me que estão mais bonitos que os meus. Fecho a mente. Deixo de pensar e sirvo-te o chá. Quente. Puxas-me para o teu colo. A tua boca pede a minha. Mas eu dou-te o morango que está preso entre os meus lábios. Aceitas, engolindo quase sem o mastigar para a seguir tomares a minha língua. Devagarinho. Quase sem se notar o subir das temperaturas.
Quero falar. Digo-te. Interrompendo o lume brando dos nossos corpos. Quero falar agora.

- Não podes falar agora. Falas depois.
- Não. Tem de ser agora. Depois esqueço-me.
- E os beijos? Temos de dar cinco beijos antes de falares.
- Cinco beijos? Quem inventou essa regra?
- Eu. As regras são sempre as minhas.
- És tão aldrabona…!
- Cinco! Já!
- Ok. Um beijo na bochecha direita. Um no queixo. Um na ponta do nariz. Outro no pescoço. E. e. Outro. Nos três sinais do teu ombro. Esse. Sim. O esquerdo.
- Hmm
- Sim?
- Era eu a escolher. Fizeste batota.
- Vá. Cala-te. Sou eu a falar. Agora calas-te.
- ..
- Sabes o que pensei hoje depois de almoço?
- Não consigo imaginar o que daí vai sair. Até tenho medo.
- Nunca andei com ninguém mais alto do que eu!
- Hmm? Foi isso que pensaste?
- Sim. Achei piada. Nunca achas piada a nada. És chata.
- Ou seja sou mais alta do que as outras mulheres e sou chata.
- Sim. E mandona. E má. E tudo tudo.
- Mais alguma coisa?
- Sim! Há sempre mais alguma coisa!
- Também pensei que gosto de ti mais à noite do que de dia.
- Ah… dizes sempre as coisas certas..
- Não, a sério! Durante o dia eu não preciso de nada. Apenas que me deixem em paz e que não ponham defeitos no meu trabalho.
- Eu deixo-te em paz durante o dia…
- Deixas. E é fabuloso. Não és melga. Eu só gosto quando te colas a mim quando vamos dormir. É quente. E bom.
- Esta conversa está cada vez melhor…
- Mas à noite. Ao final da tarde e até de manhã eu preciso de ti. Preciso do teu colo. Da tua boca a perseguir-me. De te ver no robe mar. Que prepares o chá enquanto eu preparo a fruta. Que me roubes a fruta para chegares até à minha língua. Que leias poesia para mim. Baixinho para mais ninguém ouvir. Que coloques as duas mãos sobre os meus seios e com ar vitorioso e tom alto digas “São minhas! Minhas”. Quem te ouvisse falar, pensariam que eram alguma coisa de jeito. Um tesouro. “E são! O meu tesouro! O teu sexo é a cabeça dos reis espetada na faca. Mas o teu coração, o teu coração é o que mais desejo e não possuo”. E eu sinto-me feliz. Por não possuíres o meu coração. O cofre onde a pureza se aposenta do mundo. Sinto-me livre ainda que presa a ti. Tu tens tudo. Sim, tudo. Mas o meu coração não possuis. E é assim que sinto a minha vitória. É minha. O resto pode ser teu.
- Mas tu gostas de mim? Mesmo que só precises de mim ao final da tarde?
- Gosto. Não haveria como não gostar. Estás quando me entrego. Entendes? Só ao final do dia me entrego. Sinto-me eu. Aproximo-me do que me faz feliz. És tu.
- E pronto, deixei de ter argumento. Fazes sempre isto. Começas a conversa como se a mesma fosse acabar mal. E depois. E depois voltas-te para mim. E calas-me com esse amor tão lua cheia de ti.
- Isso quer dizer que sou fantástica, não é?
- É. E muito mais.
- E mais?
- Tudo. Tudo o que quiseres.

5 comentários:

Dharma disse...

Doce... Muito doce!
:-)

AlmaAzul disse...

[lindo lindo lindo]

clic disse...

Pérolas... :)

Trio Colher de Pau disse...

Expéctacular!!!

...não desistas de escrever!

\O/
( )
M.L

Oxigénio disse...

Absolutamente fabuloso! Parabéns!