quinta-feira, novembro 10, 2005

As horas curvam-se perante o calor, demoram-se por demais na estadia, as nuvens fugiram para outros planetas tudo está claro menos ela, cabelos desgovernados pelos ombros, a teimosia em não usar óculos de sol – diz que escondem muita coisa e que perde-se tempo a mais a guardá-los e a usá-los, sim ela é assim, não aceita perder os momentos pelas horas, sofre num angústia quase incompreensível essa perda, chora-a sem que ninguém se aperceba e ela gosta disso, de esconder as lágrimas pelas conversas, pelos compromissos. Chama-se Violeta e vem de um sítio que não tem nome, um sítio perdido entre os montes pintados a verde, muito verdes onde as flores não nascem e os animais vivem soltos, diz que um dia voltará, não sabe quando mas diz que a morte seria mais bela naqueles montes que não conhecem o passar do tempo. Quando Violeta anda pela cidade descobre cada ruela como se fosse a primeira vez que as olha, nunca as reconhece por mais que já façam parte da sua vida, gosta das fotografias que tira em silêncio com os seus olhos negros como se se tratasse de uma turista mas sem máquina porque para Violeta as coisas não devem ser eternas diz que isso mata a vida; na sua casa não tem fotos de ninguém diz que o que precisa de ser guardado está escrito no seu corpo e na sua mente e que se um dia se esquecer é porque teve de ser porque era o tempo de de ganharem a liberdade. Olho-a e não a percebo, quase ninguém consegue mas ela sorri com a nossa incompreensão e continua na sua rotina que não é rotina que é apenas um novo descobrir por cada passo dado. Invejo-a nas escolhas que não faz, na sua liberdade de ser como é e de conhecer o mundo só por si sem mapas nem viagens. Ela vive a consciência do que não sabe e assim tem a vida nas suas mãos porque é na ausência de perguntas e certezas que ela pinta o seu mundo das cores que quiser sabendo que o seu caminho está escrito e que quando chegar a altura os rios a transportarão de volta para aqueles montes pintados a verde como por imposição do tempo.

7 comentários:

Anónimo disse...

Gosto e invejo a vida da Violeta!

-X- disse...

5 estrelas!!! É um gosto continuar a ler os teus textos!

Anónimo disse...

As tuas estórias encantam-me sempre! Que bonito este mundo da violeta!
Parabéns
Sea

Menina Marota disse...

A vida da Violeta... como uma borboleta, livre de voar...

Belo o teu texto. Parabéns.

Um abraço carinhoso ;)

Anónimo disse...

Uma vida livre, como o bater das asas. Bonito texto. Beijinhos.

Anónimo disse...

É interessantissimo ver-te procurar algo que ainda não sabemos exactamente como será, mas que será grande, forte & avassalador. Será.

GNM disse...

Como sempre, a tua escrita seduz-me a partir da primeira linha!

Tem uma excelente semana!