quinta-feira, dezembro 15, 2005

Saíste do trabalho já passava das 22h, ligaste-me com a desculpa que tinhas o meu isqueiro...perguntaste se não seria tarde para o vires entregar...suspendi a respiração mas acedi á tua ousadia de quereres invadir assim o meu espaço como se de um capricho se tratasse. Chegaste com uma garrafa de vinho tinto e um sorriso malicioso na cara...aquele tipo de sorriso que nos faz ficar com suores frios na dobra dos joelhos. Disseste boa noite quase com a respiração no meu pescoço e entraste na minha vida com a simplicidade com que se abre a porta da nossa própria casa. Pediste desculpa pelas horas mas que não sabias outro rumo senão chegares a mim. Desejei-te mal entraste na minha porta, mal despiste o casaco, mal a tua mão propositadamente descaíu-se sobre a minha quando me deste o copo de vinho. Falamos até o tinto acabar, até sentir-te a chegares mais perto e a razão a querer que te dissesse que estava na hora de ires embora... Calei-me e sorri com o teu á vontade...pouco tempo passou até a tua boca se derramar em desejo na minha e nos envolvermos como se fossemos uma meia lua; Revejo os passos das tuas mãos no fado que fizeram do meu corpo, a certeza do toque de tão certa que era a vontade. Se me fechar dentro dos olhos, consigo prever cada segundo daquela noite, se morder os lábios sei o sabor do suor que eram os nossos sentidos, sei com a leveza de um pássaro que o meu corpo era um encadeamento de escadas que lentamente ias descendo até chegares ao degrau assumido como teu, como boca feroz da lava que corria por nós duas; sinto os teus dedos como pétalas andantes que me perseguem os poros na suavidade de um dia de primavera, sinto-os como se agora fossem dor pela ausência do que temos e acaba porque teve que ser, porque não havia mais...como as noites em que nos unimos em que eu queria mais e tu deixavas-me a casa a meio da noite dizendo o quanto bom tinha sido e que repetiríamos de certeza. Desejei tanto que nunca mais me aparecesses à porta, que nunca mais te lembrasses de mim. Nunca tive a coragem de te dizer...que o sorriso que sentia quando me ligavas a dizer que ias lá passar em casa se tranformavam em azia, em dor quando te via a te vestires, sem olhares para mim sempre com a desculpa que não gostavas de dormir acompanhada, que não era por mim, mas por ti que tinhas muito mau dormir. Nunca te disse nada, até ao dia que deixaste de dar notícias, fiquei noites acordada sempre à espera do teu telefonema, a desculpar-te às amigas que sabiam de ti, a desculpar-me a mim por ser tão parva que não percebi que para ti era sexo, era desejo, tesão a precisar de orgasmos, gemidos, satisfação. Apagaram-me o teu número da minha memória, encheram-me a cabeça de frases tão habituais "Ela não te merece, vais encontrar alguém bem melhor, a culpa não foi tua", o tempo foi passando e agora aspiro os pedaços que ainda tenho da tua presença no meu corpo, nos meus odores...neste espaço que fizeste teu sem pensares no que eu poderia sentir, porque é assim que só sabes viver, a pensar que te preocupas com os outros mas na verdade o que importa é o que tu sentes e o que farás para que só isso seja importante, seja sublinhado. Sei que o tempo se demora pelas noites intermináveis, sei que a esta hora estarás a tocar noutras campanhias e a descer outras escadas...e que já não te lembras de mim. Não sei o que dizer se te ver, agora tenho a consciência que havia verdade nas tuas palavras, havia clareza eu é que a perdi com a ansiedade e a vontade de ter-te toda por completo, errei, precipitei-me nos teus braços e não vi, não percebi os teus silêncios quando te abraçava, quando te pedia para ficares...agora vejo a transparência de tudo e deixo-te ir...

6 comentários:

isabel mendes ferreira disse...

absurda e absolutamente...fantástico...quase pueril ainda que sofridamente descrito...mt. bom.

sotavento disse...

Ó miúda, distraí-me um bocadinho e venho encontrar um monte de pedacinhos de estrelas debruados a sal!... Muito boa, essa imaginação que te guia na estrada das palavras... :)

Anónimo disse...

infelizmente há sempre um momento em que deixamos de negar a verdade por muito dolorosa que ela seja.
devo dizer-te que também eu gosto muito da tua escrita.
e da sinceridade com que escreves.
a dor em ti é dor de verdade...
e isso é raro.
beijinho doce

Francesca disse...

Obrigada, pelos comentários, mas referindo-me mais ao teu fairy_morgaine...a dor em mim é dor de verdade sim, apesar de os meus textos serem (quase) todos ficção...sinto tudo o que escrevo como se tivesse acontecido o mesmo comigo :)

Obrigada pelo apoio**

GNM disse...

Muito, muito bom!
É um enorme prazer ler-te...

Um beijinho e um sorriso!

Anónimo disse...

...e a primeira vez que aqui venho.nem sei o que dizer.o que pensar.sei la...quero conhecer uma mulher que me surpreenda numa explosao imensa de querer...
tess


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