quarta-feira, janeiro 11, 2006

E assim acontece ler-me nas palavras de outros...

“Nunca me tinha apaixonado verdadeiramente. A partir dos dezasseis anos, conheci muitas mulheres, senti algo por todas.
Quando lhes lia no rosto um olhar diferente, demorado, deixava-me impressionar e, durante algumas semanas, achava que estava apaixonado e que as amava. Mas depois, o tempo. Sempre o tempo como uma brisa. Uma aragem suave, mas definitiva, a empurrar-me os sentimentos, a deixá-los lá no fundo e a mostrar-me na distância como eram pequenos muito pequenos e sem valor.
E sempre a solidão. Sempre. Eu sozinho, a viver. Sozinho, a ver coisas que não iriam repetir-se; sozinho a ver a vida gastar-se na erosão da minha memória. Sozinho, com pena de mim próprio, ridículo, mas a sofrer mesmo. Nunca me tinha apaixonado verdadeiramente. Muitas vezes disse amo-te, mas arrependi-me sempre.
Arrependi-me sempre das palavras.”

In "Uma casa na escuridão" de José Luís Peixoto.

4 comentários:

Anónimo disse...

;-)))

-X- disse...

Muitas vezes sozinho (mesmo com alguêm a meu lado), repetidamente a sofrer, mas nunca com pena de mim próprio, nunca arrependido de cada amo-te que pronunciei, cada um foi sempre preenchido e pleno e dito como se o amanhã não existisse.
Talvez por isso tenha sido acusado de ser demasiado exigente no amor mas nunca soube amar de outra maneira...

jctp disse...

O arrependimento (em tempo real)

- Amo-te.
- O quê? O que é que disseste?
- Nada. Nada. Esquece.

sotavento disse...

Gosto muito dele!... :)