terça-feira, janeiro 31, 2006

Sinto...o adeus...

Todo o amor do mundo não foi suficiente porque o amor não serve de nada. Ficaram só os papéis e a tristeza, ficou só a amargura e a cinza dos cigarros e da morte.
Os domingos e as noites que passámos a fazer planos não foram suficientes e foram demasiados porque hoje são como sangue no teu rosto, são como lágrimas. Sei que nos amámos muito e um dia, quando já não te encontrar em cada instante, em cada hora, não irei negar isso. Não irei negar nunca que te amei, nem mesmo quando estiver deitado, nu, sobre os lençóis de outra e ela me obrigar a dizer que a amo antes de a foder.

- José Luís Peixoto in “a criança em ruínas”


I
Não te sei (ainda) fechar a porta, expulsar-te da minha pele que ainda sabe à tua. É cedo para fechar o meu coração e atirar-me aos dias. É cedo para deixar de sorrir quando olho para as tuas fotografias. É cedo para te deixar ir. Quero prender-te a mim, sim prender-te mesmo, quero ainda que tudo aconteça. Tu. Eu. Sinto a boca seca sempre que tento dizer a palavra “nós” – não consigo. Corrompeu-se, morreu-me.

Sempre tive medo de me entregar por isto…por saber que um dia me iriam fechar a porta quando eu menos esperasse…sempre temi o amor pela facilidade com que se despede de nós. Sempre me temi quando me apaixonasse, porque a queda seria fácil, porque sempre que nos entregamos as quedas são fáceis, rápidas e dolorosas. Mas tu, tu sempre me deste todos os sinais que a porta se estava a fechar…como pude não reparar? Como pude fingir não reparar? Que tu estavas por aqui por pouco tempo…o tempo para eu te abraçar e contar os minutos para te abraçar novamente. Não podias ficar muito tempo, não seria certo. Como te podias tu apaixonar por mim? Que tolice da minha parte pensar que isso era possível! Resguardo-me dos meus pensamentos, mas a tua pele…essa pele que me rebenta os sentidos, que me fode a textura das minhas mãos! Quis-te tanto mesmo quando não sabia que era possível te gostar, te adorar…mas aconteceu…e como fugir? É fácil, esperamos que a porta se feche na nossa cara e depois então podemos fugir.

Tens razão nunca me enganaste, enganei-me eu, ao dar-te tanta importância, a incluir-te na minha vida, nas minhas palavras, no meu sono. Enganei-me eu quando acreditei. Não, não tens culpa. A culpa é desta merda que bate cá dentro, deste cabrão que acelera quando me lembro de ti, e não posso, e não serás mais do que és agora. Um tempo, um livro que se fechou.

E quero-te, e quero que voltes atrás…e quero que me queiras. Mas não posso continuar a atropelar-me para que a memória de ti continue cá dentro bem viva, bem tua.

Despeço-me de ti, despeço-me de tudo o que tivemos e valeu a pena.
Despeço-me de mim e brinco à minha estupidez, e à minha impulsividade tão mal abençoada!

Aconteceu, conseguiste com que eu caísse!

10 comentários:

sotavento disse...

Toca a levantar, então!... Sem cair, não se aprende a andar de bicicleta!... ;)

Anónimo disse...

Lindo como sempre...

S.S.

SL disse...

Na minha opinião o texto está muito bom...mas não consegues transmitir na totalidade o que tá ai dentro... parece que até na escrita tens algum receio de te dar. Quanto ao resto, já sabes o que eu penso.

Gux disse...

Socia!! Excelente como sempre! Tragi-Cómico! Amei!

quando é que vem o livro?

BoSeiJu disse...

"(...) sempre temi o amor pela facilidade com que se despede de nós."

Sempre a mesma simplicidade nas imagens que transmitem ideias profundas. É a característica da tua voz poética. :)

Anónimo disse...

Viciada nas palavras...

(gosto)

Trocar impressões, também

Anónimo disse...

A tua ausência é, em cada momento, a tua ausência.
não esqueço que os teus lábios existem longe de mim.
aqui há casas vazias. há cidades desertas. há lugares.
mas eu lembro que o tempo é outra coisa, e tenho
tanta pena de perder um instante dos teus cabelos.
aqui não há palavras. há a tua ausência. há o medo sem os
teus lábios, sem os teus cabelos. fecho os olhos para te ver
e para não chorar.
José Luís Peixoto

Adorei...as tuas palavras ecoaram cá dentro. beijinhos da Bia**

BlueShell disse...

Algum pessimismo, não?
Não tem de ser assim! Talvez não seja um "quadro tão negro como o pintas"...quem sabe?
Talvez seja um amor "daqueles"...eternos!


Só pude vir agora pois tenho estado em repouso!
Jinho, BShell
( estou no activo outra vez)

AlmaAzul disse...

[Ás vezes precisamos de sentir que não, nem nós, somos inquebráveis.
Que até nós podemos ser frágeis.
Podemos cair.
Podemos Partir-nos.
Mas o que nos distingue realmente é a forma como o fazemos, a forma como nos levantamos de seguida.
Com/como palavras...]

***

Anónimo disse...

Amei pima! Axério...só vou comentar este pq foi mm o q eu gostei mais =)


parecido cmg... =/

* * *