sábado, setembro 23, 2006

Deito-me nesta mesa dos pressentimentos, de nudez colada a uma madeira escura pernoitada de luz que antecipa o nascer de um dia. Mais um, na contagem decrescente da leitura da minha vida. Ou quase vida. Rastejo as minhas mãos pelos caracóis desconcertados que se ficam pelos meus ombros calejados de beijos raivosos, penetrantes.
Trago em mim os cheiros de Outubro, das folhas secas que me ferem o corpo em desatino de desejo, de quebras desalinhadas de lábios fundidos pela minha pele arranhada de perdição nos tragos de luxúria que encontraram aqui o seu leito.
Procuro-me com a ponta dos dedos como se seguisse um rastilho de pólvora pront0 a ser despertado, atormentado com o receio de explodir. Sigo-me pausadamente, como se a ponta dos meus dedos fossem os teus emprestados, cedidos à vontade nossa de me liberares, de me ouvires pronunciar as palavras que anunciassem o meu nascimento.
Encadeio-me em sons que são silêncio sequestrado na minha garganta, sufoco nesta ausência que me prende o calor ao corpo e faz-me revirar apoiando os meus seios estonteados ao vidro embaciado da mesa, enaltecendo a pressão nos joelhos aguardando que tomes posição neste espaço e me esventres a solidão do meu desejo. Depois de sentir-me presenteada desenfreadamente pelo cansaço de todo o meu corpo, dar-te-ei a beber o que ainda me resta nesta espera desinquietante que é me sentir descoberta pelos teus olhos.

6 comentários:

eudesaltosaltos disse...

Como te entendo.... gostei, da simplicidade com q escreveste... mas hj tou tristinha, p isso n m alongo. bj

Madeira Inside disse...

Brrrr....fizeste-me lembrar tanto o Outono!!! ;P

Beijinhos

musalia disse...

Setembro é nostálgico. o calor que se esvai prende-se-nos à pele.

disseste-o de uma forma sempre nova.

bj.

Anónimo disse...

A loucura dum vazio que já foi plenitude. A saudável indecencia das palavras que nos escorrem pelos lábios, a exuberande lascíva de um corpo que espera o prazer.

Susana Fonseca disse...

Como sempre, fantástico!!

whitesatin disse...

I never really left, amiga. Só andei ausente. Mas nunca deixei de acompanhar os teus escritos, que diga-se de passagem, estão cada vez melhores! ;)

Beijinhos