quarta-feira, novembro 22, 2006

F(r)icção I

Dois rasgos de peles que se enquadram numa figura de cheiro a trovoada, movida pelas paredes que são fotografias a preto e branco. Dois corpos estendidos pelo chão onde as mãos são cobras que serpenteiam pelos escombros bebidos em suor. Caminham palavras molhadas em desejo latente perpetuado nos passos que se tacteiam à medida que a noite se esconde pelas horas de um tempo irreflectido.

Esperam-se em abismo as bocas que se lançam ao coração, que escorrem pelas línguas como silêncio abundando sentires, que se imaginam almas eternas num abraço que é dado na ausência premeditada do nascer de um novo dia. O seguinte.

E agora, impacientam-se os toques, a harmonia. O quente que ferve por entre as pernas alagadas em gestos esquecidos. Devoram-se as esperas reveladas nos rostos cansados de quem vive o fim como nova forma de acordar.

Os corpos afastam-se. Ressentem-se dormentes ocultando o que não exprimem. Sorriem, enfrentando o medo, sorriem no instante em que as almas brincam distraídas, em que nada ficará na memória. Nada do que foi vivido.

Despedem-se com a certeza que algo morreu naquela efemeridade onde o desejo se cruza com a solidão.

4 comentários:

Anónimo disse...

deixo-te um arco-íris guarda-chuva muito bom para dias que arranham.

Abraço

Irene Ermida disse...

Tanta intensidade contida em simples palavras!

Aguardo uma visita...

http://umaetrintaesete.blogspot.com/

Anónimo disse...

deixo um beijo,gostei*

Anónimo disse...

Gostei.
Intenso.

Diz ela*