sábado, dezembro 15, 2007


Foto de autor desconhecido (acho.)


Era um lugar reservado para ti. Não sei que lugar seria, posso dizer-te, que nunca pensei nisso. Que lugar nesta cidade seria o teu. Mas podias ter vários. Acho que gostarias de ter vários. E assim, quando sentisse mais a tua ausência junto à minha pele poderia passar por esses vários lugares. E acho que sorriria. Porque não sorrir? Serias tu que estavas ali. Num de muitos lugares. Que seriam teus. Esses lugares seriam presentes meus para ti. E assim veria o teu sorriso. Nos dias em que a ausência me fosse difícil de engolir e aceitar. Há dias assim. Em que parece que morremos quando nos sentimos sozinhos. É a solidão que mata. Mas é só às vezes. Não te preocupes. Não gosto que se preocupem comigo. Fico sem jeito com essas coisas. E eu fico bem. Sobrevivo, lembras-te? Eu fico bem. E peço-te que não te preocupes. Porque não gosto e fico sem jeito. E não gosto de ficar sem jeito. O tapete foge nesses momentos. E eu quase, quase que caio.

Hoje vou sair de casa. Porque agora a casa parece o inferno. O inferno dentro do quarto. E as noites, sempre as noites. Mas hoje vou sair. Era para ter ido ao cinema. Não fui. Hoje não me apeteceu ir ao cinema sozinha. Hoje não quero estar sozinha. E não vou estar. No hoje estou acompanhada. É assim que tem de ser. E as insónias hoje ficam para trás. Porque existe companhia. E não vou beber porque não posso. Mas comprei álcool. E comprei também sumo. Bebo sumo, eu. Laranja e cenoura. E fico contente. Não me sinto exigente. Hoje. Acho que afinal não sou exigente. Contento-me com pouco. Parece que agora contento-me com pouco. O crepe com chocolate quente que comi ao lanche estava uma merda mas comi e sorri. Bastou-me o crepe mesmo que estivesse uma porcaria. E depois lembrei-me de vir a pé para casa e passar à tua porta. Mas não o fiz. Mudei de caminho e fui ao supermercado. E podia ter passado à tua porta, mas não o fiz. E bastou-me só essa ideia. De voltar à tua rua. Aquela rua.

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